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Quase metade das novas internações em UTIs por covid não é de idosos

A proporção de pessoas com menos de 60 anos entre as internações em UTIs por covid-19 nunca foi tão alta no Brasil. Pacientes nessa faixa etária eram 35,6% das internações feitas em dezembro. Passaram a 48,4% em março. Ou seja, quase metade das pessoas que foram até agora para a UTI neste mês é de gente abaixo de 60 anos.

Esse é o maior patamar de internados não idosos até agora e aponta para uma mudança no perfil de contágio e adoecimento. Do começo da pandemia até até o início de 2021, a proporção pessoas de mais de 60 anos entre os internados sempre foi muito superior a todo o resto da população. Agora, não mais.

O percentual de idosos nas novas internações caiu ao seu nível mais baixo. Foi de  64,4% do total em dezembro para 51,6% das entradas em UTI em março.

E não caiu apenas em proporção. O grupo de pessoas acima de 60 anos foi o único no qual o número absoluto de novas internações também caiu de janeiro a fevereiro, último mês fechado. Foi de 18.173 para 14.506.

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Poder360 analisou 265.286 internações no Sivep-Gripe, banco de dados do SUS, atualizado na noite de 4ª feira (17.mar.2021). Só foram considerados os casos com informações completas sobre faixa etária, mês de internação e local.

Os números desta reportagem não se referem à taxa de ocupação de leitos, mas sim à quantidade de novas internações feitas a cada mês no sistema hospitalar.

ONDE OS IDOSOS JÁ SÃO A MINORIA

Em 9 Estados o número de novas internações de pessoas de 0 a 59 anos já ultrapassa o de idosos em março.

Em São Paulo, por exemplo, o percentual de mais jovens com covid-19 em UTIs aumentou 11 pontos percentuais, na comparação entre os internados em dezembro e os internados em março.

O Estado tem o maior número de casos e mortes pelo novo coronavírus. O governador João Doria (PSDB) decretou “fase emergencial” na semana passada e endureceu medidas restritivas. Na capital, 5 feriados foram antecipados para tentar frear o contágio.

Poder360 preparou um infográfico interativo detalhando a evolução da faixa etária dos pacientes de covid-19 em UTIs de cada unidade da Federação. Acesse aqui.

O percentual de mortos entre a população mais jovem também aumentou. Para conhecer a faixa etária das vítimas em cada Estado ao longo da pandemia, leia esta reportagem.

VACINAÇÃO E OUTROS FATORES

André Siqueira, médico Tropicalista e pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), apresenta duas hipóteses para explicar o acréscimo de internações entre os mais jovens: mais pessoas nessa faixa etária estão contraindo a doença, ou o número de infectados não sofre grandes variações, mas aqueles que foram diagnosticados desenvolvem quadros mais graves e precisam de leitos de UTI.

O médico também vê relação com a exposição dos grupos mais jovens, com as novas variantes do vírus e com o início da vacinação:

“Há sim evidências de que a doença tanto se propaga mais intensamente nos mais jovens por estes se protegerem menos e terem mais contatos sociais, quanto pelo fato de que as novas variantes têm sido associadas a maior gravidade de doença”.

Alexandre Cunha, infectologista do Hospital Sírio-Libanês e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, faz um paralelo com o cenário internacional: “em outros países que vacinaram os idosos, essa foi a 1ª faixa etária a cair drasticamente o número de óbitos”. 

Guilherme Werneck, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), acha que é cedo para mensurar o impacto da vacinação. “Poucas pessoas receberam as duas doses”, pondera o professor. Ele acrescenta: “Teoricamente, a vacina também poderia impactar numa faixa etária mais jovem, porque os profissionais de saúde representam um percentual bem grande da população que é prioritária no momento”.

Contudo, a maior parte da população abaixo de 60 anos não será vacinada tão cedo. O governo federal projeta começar a imunização dos grupos não prioritários a partir do 2º semestre. Até lá, a população mais jovem, que circula de forma mais intensa e está mais exposta ao vírus, fica vulnerável.

“Não é hora de sair, não é hora de se encontrar, não é hora de festejar; é hora de ficar no seu canto”, aconselha Werneck. “A população precisa entender que o risco de hospitalização e morte não é restrito a indivíduos com mais de 60 anos”, alerta o professor.

O QUE PODE SER FEITO

Walter Ramalho, professor de epidemiologia da UnB (Universidade de Brasília), afirma que a vacinação deve ser acelerada. “Caso contrário, teremos ainda um celeiro de novas variantes, que podem inclusive, deixar a vacina menos eficaz”, avalia.

Para Werneck, além de vacinar mais e mais rápido, é necessário “tornar as medidas mais drásticas de isolamento social”:

“O que tem que ser feito realmente é entrar num sistema forte, durante algum tempo, de um distanciamento social do tipo lockdown no Brasil inteiro para que a gente consiga de alguma forma radicalmente limitar a transmissão”, afirma o professor.

O professor ressalta a dificuldade de disponibilizar mais leitos: “Um leito você não abre de um dia para o outro. Não tem tanta gente com experiência disponível para ficar atendendo mais leitos”.

Ele acrescenta que os profissionais de saúde estão “exaustos” e que o ritmo atual da pandemia impõe “escolhas muito difíceis para os profissionais de saúde, que foram formados com a missão principal de salvar vidas e não de ter que escolher quem vai e quem não vai viver”.

Informações/site: Messias Bezerra

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