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PF diz ao STF que milícia digital usa gabinete do ódio, e delegada se licencia

A delegada Denisse Ribeiro afirma em despacho ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que coletou no inquérito das milícias digitais elementos de uma ação orquestrada de bolsonaristas na difusão de desinformação e ataques às instituições.

A atuação, diz a PF, seria por meio do “autodenominado gabinete do ódio”, que produz conteúdos para atacar pessoas previamente escolhidas pelo grupo de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O modelo orquestrado teria como finalidade criar e deturpar dados para “obter vantagens para o próprio grupo ideológico e auferir lucros diretos ou indiretos por canais diversos”.

O documento enviado a Moraes faz um um resumo da investigação e foi feito para informar sobre o início da licença-maternidade da delegada. Ela indica a necessidade de continuidade nas investigações e sugere um investigador substituto.

No entendimento de Denisse, há “lacunas que precisam ser preenchidas, indicadoras da necessidade de realização de novas diligências voltadas à individualização dos fatos praticados, com indicação de autores e partícipes”.

Entre as diligências estão a oitivas de pessoas, cruzamentos de dados, indiciamentos e interrogatórios, diz a delegada.

A manifestação da delegada vem na mesma semana em que Moraes autorizou que o presidente Jair Bolsonaro passe a ser investigado no inquérito por causa do vazamento da apuração sobre o hacker do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ela afirma no despacho que esse caso, assim como o da live em que Bolsonaro atacou sem provas as urnas e os apurados no inquérito das fake news, possui “correlação e revelam semelhança no modo de agir” do grupo investigado no inquérito das milícias digitais.

Segundo a delegada, o material coletado até agora na investigação aponta para “existência de eventos que, embora não caracterizem por si tipos penais específicos, demonstram a preparação e a articulação que antecedem a criação e a repercussão de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas a respeito de pessoas ou temas de interesse”,

“Como exemplo, entre outros, pode-se citar a questão do tratamento precoce contra a Covid-19 com emprego de hidroxicloroquina/cloroquina e azitromicina”, diz trecho do despacho.

Além desses casos, diz o relatório, há menção entre os investigados de “elaboração de dossiês contra antagonistas e dissidentes, inclusive com insinuação de utilização da estrutura de Estado para atuar investigando todos”.

Sobre um caso específico, em uma nota de rodapé do relatório, a delegada cita trechos extraídos pela PF de conversas de Otávio Fakhoury, empresário bolsonarista, e Angela Masília Lopes em que há citação de uma pessoa que era o cão farejador no PSL de São Paulo e que fazia levantamentos e dossiês.

Segundo o diálogo, cuja data não é revelada, a dupla também estaria atrás de informações sobre Sergio Moro (Podemos) e Rosângela, sua esposa, e teria comemorado o fato do delegado Alexandre Ramagem ser colocado no comando da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)”.

“Bendito dia em que puseram esse Ramagem na ABIN! Eh o jeito de fazer esse país andar. Investigar todos e pôr todo mundo na parede”, diz trecho da conversa transcrita no relatório.

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