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A polícia encaminhou ao Ministério Público e à Justiça os laudos dos celulares apreendidos e 72 representações criminais por estelionato contra a estudante Alicia Dudy Muller, de 25 anos, que desviou quase R$ 1 milhão dos fundos arrecadados para custear a festa de formatura da turma de medicina da USP.
No início de fevereiro, a Justiça não aceitou o pedido de prisão preventiva feito pela polícia contra a estudante. A decisão concordou com o posicionamento do Ministério Público, que entendeu que o caso se tratava de crimes de estelionato, não de apropriação indébita, como ela havia sido indiciada, e pediu que fosse feita uma lista com o prejuízo individual dos alunos. Cada vítima teria de mostrar interesse em representar pelo crime.
Segundo apurado pelo g1, o Instituto de Criminalística analisou ao menos dois celulares, um smartwatch, cartões bancários e HD externo, que devem ser devolvidos a ela. Sobre um tablet, a investigação sugeriu que seja leiloado por ter sido adquirido com dinheiro do fundo, e a quantia arrecadada revertida para entidades beneficentes.
O carro de luxo alugado por ela com o dinheiro dos alunos já foi devolvido à empresa em fevereiro.
Os novos documentos apresentados à Justiça e ao MP revelam conversas de Alicia com conhecidos em que ela fala sobre os gastos e as mudanças de versões. A estudante recebeu mensagens com ataques, apoio de amigos preocupados e tentou explicar a situação para quem era mais próximo (veja abaixo).
A defesa dela foi procurada pelo g1, mas não encaminhou resposta até a última atualização desta reportagem.
O que você deve saber:
Alicia Dudy Müller Veiga é acusada de golpe na USP — Foto: Reprodução
Quando o caso veio à tona, Alicia conversou com conhecidos sobre a situação e mostrou nas mensagens um suposto arrependimento e disse que estava “vivendo o próprio inferno”. Ela chegou a comentar sobre as tentativas de recuperar o dinheiro com apostas na Lotofácil.
“O pior de tudo foi no primeiro jogo já ter feito 14 pontos. Foi a única vez que isso aconteceu inclusive (eu tenho os comprovantes, não recebi nem metade do que foi noticiado). Mas então tipo: eu tinha na minha cabeça aquilo de tipo: vai dar, vou ganhar, vou reaver o dinheiro vai dar certo”, disse.
“Pq foi tão perto, que parecia real e mto próxima a possibilidade de ganhar, e era o único jeito de eu conseguir o dinheiro da formatura”, escreveu. “Eu passava o dia fazendo conta pra tentar ganhar, sabe? E perdi o dinheiro tanto da formatura quanto o meu mesmo nisso.”
Em janeiro, quando o caso ganhou repercussão, houve comentários de que a jovem teria saído do país. Mas ela estava em São Paulo .
“Não to fugida vivendo nos Estados Unidos. Tô dentro de casa vivendo o próprio inferno.”
Como acompanhava o que era investigado, Alicia chegou a negar que teria aberto uma empresa para movimentar o valor.
“Uma coisa que eu vi, eu os prints que estão mandando né, por exemplo: cara, é incrível, tipo como as pessoas aumentam e fazem é…tipo vinculam coisas que não são assim, sabe. Tipo em nenhum momento eu criei uma empresa falsa pra fazer isso, sabe. Tipo não foi uma coisa premedita e uma coisa pensada pra fazer dessa forma. Tipo o CNPJ que eu tenho é CNPJ de MEI que eu abri em setembro, outubro do ano passado que foi quando comecei a trabalhar, tipo curso pra residência, sabe. O meu salário era pago via emissão de nota, então tipo eu tive que abrir um MEI.”
A Delegacia Especializada em Investigações Criminais (DEIC) de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, apura os crimes de estelionato e lavagem de dinheiro contra uma lotérica, cometidos em 2022.
Cronologia:
As conversas de Alicia com a caixa foram recuperadas. Em determinados momentos, ela perguntava sobre a saúde, a rotina e assuntos pessoais da funcionária. Depois de se aproximar, ela tentou que a caixa fizesse apostas sem o chefe saber.
“Você faria os jogos pra mim amanhã? Mesmo se não desse pra eu pagar o pix no dia?”, questionou. “Ele [chefe da caixa] não precisa saber na hora [sobre a aposta]. Pelo amor de Deus”, comentou em outro trecho.
“Mas é que agora eu só penso que tenho que pagar 190 mil de um dinheiro que eu perdi. Não vou pagar isso. Mas não quero que seja você que pague”, escreveu.
As situações causaram estresse à funcionária no trabalho, que chegou a temer pelo emprego e estava grávida.
Fantástico traz detalhes da investigação sobre aluna da USP que admitiu ter sacado dinheiro do fundo de formatura pra uso pessoal
Alicia foi ouvida pela polícia em 19 de janeiro, em São Paulo. Ela confirmou que desviou os valores que seriam usados para a festa de formatura por entender que os recursos não estavam sendo bem administrados pela empresa contratada, mas fez “aplicações ruins” e acabou perdendo dinheiro.
No “desespero”, ela disse que tentou recuperar o montante fazendo apostas em uma lotérica. Ela também admitiu que usou em benefício próprio uma parte das quantias para pagar despesas pessoais, como aluguel de carro, apartamento e compra de eletrônicos. A estudante afirma ter agido sozinha.
De acordo com o interrogatório, Alicia admitiu à polícia que a história que contou aos colegas da comissão, de que teria investido o dinheiro da formatura em um fundo e sofrido um golpe, era mentira.
Alicia teria feito anotações sobre o caso em caderno — Foto: Reprodução
Alicia era presidente da comissão de formatura dos estudantes de medicina da USP. Segundo a delegada Zuleika Gonzalez Araujo, a nova presidente da comissão de formatura foi ouvida em janeiro pela investigação. A testemunha afirmou que Alicia mudou as senhas de acesso ao e-mail da comissão.
A nova presidente contou ainda que o grupo não teve mais acesso às informações e aos avisos da empresa organizadora do evento sobre as transações feitas por Alicia.
Ainda em janeiro, investigadores do 16º Distrito Policial foram ao apartamento de Alicia cumprir um mandado de busca e apreensão autorizado pela Justiça.
Representantes da ÁS Formaturas, contratada pelos formandos de medicina da USP para fazer a festa deles, confirmaram à polícia que a empresa transferiu quase R$ 1 milhão para a conta bancária de Alicia, que até então era a presidente da comissão de formatura.
Segundo o boletim de ocorrência sobre o caso do sumiço do dinheiro, Alicia solicitou à empresa ÁS Formaturas a transferência de R$ 927 mil em nove parcelas.
Antes, Alicia afirmou ter aplicado R$ 800 mil em uma corretora de investimentos chamada Sentinel Bank, mas voltou atrás na versão quando foi ouvida pela polícia.
A ÁS Formaturas também se reuniu com o Procon-SP e informou que não vai repassar aos alunos o prejuízo de R$ 927 mil desviados pela aluna. A empresa também concordou em bancar com fornecedores a mesma estrutura da festa que havia sido contratada.
Natural do interior de São Paulo, Alicia Dudy Muller ingressou na faculdade de medicina em 2018. Ela está no sexto ano do curso.
Alicia nasceu em Itararé, mas reside em um prédio na Vila Mariana, na Zona Sul da capital.
Em entrevista para a Rádio USP em fevereiro de 2018, ela afirmou que tinha passado no curso de farmácia e até feito a matrícula, mas desistiu e decidiu fazer cursinho por mais um ano para tentar entrar em medicina.
Fonte: G1