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Uma das expressões mais populares do Brasil ganha um reconhecimento único. Um marco para ser festejado e reverenciar a memória de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Marinês, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e muitos outros mestres.
As Matrizes Tradicionais do Forró são agora Patrimônio Cultural do Brasil. O registro foi concedido na manhã dessa quinta-feira (9), após reunião do conselho consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o registro desse bem, músicos, produtores e toda a cadeia produtiva do forró sai fortalecida e representada.
O dossiê apresentado ao Iphan reuniu extensa pesquisa textual, audiovisual e fotográfica.O intuito foi enumerar os aspectos sociais, históricos e culturais do gênero. Trata-se de toda uma série de fazeres e saberes que envolvem as matrizes tradicionais do forró, como o xote, baião, xaxado, coco e toada.
O Iphan aponta que a Associação Cultural Balaio do Nordeste (PB), formalizou o pedido de registro no ano de 2011. A iniciativa também contou com participação do Fórum Forró de Raiz da Paraíba. Passado esse primeiro momento, o processo acompanhou uma série de encontros, fóruns e seminários com os artistas que dominam essa arte.
Participaram cantores, músicos, dançarinos, produtores, pesquisadores e associações do Nordeste e mais três estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal. “É o resultado de um trabalho de 10 anos que vai nascendo”, conta a Presidente da Associação Balaio Nordeste e Coordenadora Nacional do Fórum do Forró de Raiz, Joana Alves.
“É gratificante saber quantos artistas podem ter condições de ser reconhecidos mundial e nacionalmente. Vamos trabalhar na salvaguarda, em atrativos por leis de incentivo”.
Próximo passo, avalia Joana Alves, é dar entrada para que o forró seja Patrimônio Mundial da Cultura no Brasil pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “Temos o mundo cantando e dançando forró, só falta o registro”, conta Joana Alves.
A cantora Marivalda Kariri é um dos grandes nomes do forró raiz no Brasil. Mestra da cultura cearense, ela compartilha estar emocionada com o título de Patrimônio Cultural.
“Nunca imaginei, sinceramente, que o forró e nossas matrizes, a sanfona, a história da música nordestina, por que não dizer brasileira, afinal somos Brasil, fosse receber tamanho reconhecimento”, descreve.
Marivalda descreve que esta expressão é generosa, pois são inúmeras gerações que conseguiram trabalhar e sobreviver a partir desta musicalidade. A notícia é motivo de celebração, reitera a estrela do forró.
“Nós artistas, compositores forrozeiros, trabalhando sempre com cultura, fazendo as coisas acontecer, alegrando corações de todos os nordestinos em qualquer época de festa. Eu estou muito feliz. Viva o Brasil. Viva o Iphan e a cultura nordestina e brasileira”.
Para Ráu Rocha, sanfoneiro e cantor dos Muringa, é uma honra fazer parte dessa cultura. De poder tocar o fole e encantar as plateias. E nada mais justo, conta o músico, que o registro aconteça às vésperas do aniversário de Gonzagão, que é dia 13 de dezembro, o Dia Nacional do Forró.
“É um gênero artístico e cultural criado por nós, que abrange não somente a música, como os cordéis, as festas juninas, as vestimentas, o linguajar de um povo e o jeito único que só o nordestino tem”, defende Ráu Rocha.
Além da expressão musical, Neopineo é reconhecido pela dedicação à defesa e pesquisa do forró. Um de seus últimos trabalhos, a canção “Forró Raiz” foi finalista no último final de semana da 4ª edição do Festival da Música de Fortaleza.
“Sou coco, xote, xaxado. Galope, forró, baião. Rastapé bem arroxado. Nas quadrilhas de São João. Na roça, de Mané Vito. Sou Xerém, sou Seu Luiz. Sou dança, lugar, sou ritmo. Eu sou o Forró Raiz”.
O músico que também é Diretor de Comunicação e Cultura da Associação Cearense do Forró (ACF), aponta que este acontecimento ilumina grandes mestres do passado que dignificaram o forró. “Vitória da manifestação cultural mais praticada no Planeta”, atesta.
Neopineo resgata que o primeiro registro da palavra “forró” foi encontrado na gravação fonográfica “Forró na Roça”, canção composta pelos cearenses Dão Xerém e Manoel Queiroz, em 2 de julho de 1937. Das muitas definições e processos de sua pesquisa, Neopineo defende que o gênero musical também é uma filosofia de vida para o povo cearense.
“Embasa e também é enraizada por manifestações culturais tais como grupos de pau de fita, reisado de congos, coco, manero pau, bandas cabaçais, xaxado, lampinha, penitentes, excelência e outras dezenas entranhadas nos 184 municípios do Ceará, onde o forró tem sua origem”.
Neopineo explica que no último dia 2 de dezembro, a ACF entrou em contato com o Iphan via email. O envio aconteceu no prazo estabelecido pela entidade (até 5 de dezembro) para que a sociedade civil se manifestasse sobre o gênero nordestino. A iniciativa pede que a Associação cearense também seja creditada como coautora do pedido de registro do forró.
Na comunicação realizada, a entidade reúne uma série de documentos que comprovariam a solicitação realizada pela entidade junto ao Iphan em 2011. “Nos sentimos isolados e não tivemos voz alguma nesse processo”, aponta trecho do email.
De acordo com a Associação, o pedido tem o objetivo de unir forças e ajudar o forró a ser reconhecido mundialmente. “Cremos que perante a Unesco, o compartilhamento de proteção e salvaguarda do patrimônio cultural imaterial é muito mais bem visto que as iniciativas individuais ou de grupos isolado”, manifestou-se a Associação Cearense do Forró.
Fonte: Diário do Nordeste