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O governo dos EUA incluiu uma rede brasileira de indivíduos e empresas supostamente ligada à Al Qaeda na lista de terrorismo do Departamento do Tesouro, informou a embaixada americana nesta quarta (22).
Haytham Ahmad Shukri Ahmad Al-Maghrabi, 35, egípcio naturalizado brasileiro, Mohamed Sherif Mohamed Awadd, 48, de nacionalidade egípcia e síria, e Ahmad Al-Khatib, 52, de nacionalidade egípcia e libanesa, terão bens e contas nos EUA congelados. Também são alvo de sanções as empresas Home Elegance Comércio de Móveis, cujo nome fantasia é Marrocos Móveis e Colchões, e Enterprise Comércio de Móveis e Intermediação de Negócios, localizadas em Guarulhos e pertencentes a Awadd e Al-Khatib.
Os três teriam “auxiliado materialmente, patrocinado ou fornecido apoio financeiro ou tecnológico, além de bens ou serviços, para ajudar a [facção terrorista] Al Qaeda”, de acordo com o governo dos EUA.
Segundo as autoridades americanas, Al-Maghrabi, que chegou ao Brasil em 2015, foi um dos primeiros membros de uma das redes da Al Qaeda no país. Ele teria tido contatos frequentes e mantido negócios para a compra de moeda estrangeira de um outro indivíduo filiado à organização em território brasileiro.
Os EUA também dizem que Al-Maghrabi foi, até 2018, o contato do grupo no Brasil. Ele teria se reportado a Ahmed Mohamed Hamed Ali, egípcio ligado aos atentados da Al Qaeda contra as embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, em 1998, que causaram mais de 200 mortes. Ele morreu em 2010, no Paquistão.
Procurado, Al-Maghrabi afirmou não conhecer Ali. “Não conheço, nunca ouvi esse nome”, disse ele, que, à reportagem, negou qualquer envolvimento com a Al Qaeda. Em nota, Ronaldo Musslim, advogado de Al-Maghrabi, acusou o FBI de “mais uma vez cometer perjúrio contra pessoas, imputando a elas práticas criminosas que jamais cometeram”. “Meu cliente está à disposição das autoridades brasileiras e estrangeiras para qualquer esclarecimento e pretende provar sua inocência.”
Awadd, por sua vez, segundo o governo americano, chegou ao Brasil em 2018 e recebeu transferências bancárias de outros associados da Al Qaeda no país. “Até o final de 2018, Awadd desempenhou um papel significativo em um grupo afiliado à Al Qaeda e estava envolvido na impressão de moeda falsa.”
Ainda de acordo com o governo dos EUA, Awadd e Al-Khatib teriam auxiliado materialmente, patrocinado ou fornecido apoio financeiro ou tecnológico a Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, incluído na lista de terrorismo do Tesouro americano em 2019 “por ter agido em favor ou em nome da Al Qaeda”.
“As designações de hoje ajudarão a negar o acesso da Al Qaeda ao setor financeiro formal para gerar receita que apoie suas atividades”, afirmou Andrea Gacki, diretora do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro. “As atividades desta rede sediada no Brasil demonstram que a Al Qaeda continua sendo uma ameaça terrorista global generalizada.”
Khatib, que é xeque muçulmano, está no Brasil há 32 anos e preside a ONG Associação Livro Aberto (Núcleo islâmico), que recebe refugiados sírios. Ele já havia sido investigado na Operação Hashtag, em 2016, que apurou um suposto esquema terrorista para fazer um atentado nas Olimpíadas no Rio. Em 2017, a Justiça do Paraná condenou oito pessoas envolvidas na operação, e Khatib não estava entre eles.
À reportagem ele nega qualquer envolvimento com a Al Qaeda. “Não tenho nada a ver com a Al Qaeda, nem existe Al Qaeda no Brasil, esse pessoal dos EUA tem imaginação hollywoodiana”, afirmou. Ele disse conhecer os outros dois acusados, Al-Maghrabi e Awadd, porque vendeu uma fábrica a eles.
“Eles vieram ao Brasil fugindo do Egito, onde são perseguidos. Nós nos encontramos na mesquita e fizemos negócios. Tenho uma ONG, ajudo as pessoas, faço doações e não pergunto se quem está recebendo é da Al Qaeda ou do PCC. Não tenho nada a ver com Al Qaeda. Vivo há 32 anos no Brasil, trabalho, ajudo as pessoas e quero uma vida tranquila.”
O governo americano informou ter agido em colaboração com autoridades brasileiras. Em 2019, os EUA já tinham incluído um cidadão egípcio que vivia no país em sua lista de terrorismo, por suposta ligação com a Al Qaeda. Outros entraram na relação por ligações com o movimento libanês Hizbullah.
O nome do egípcio foi retirado da relação no mesmo ano por ele não estar mais foragido, mas o FBI, a polícia federal americana, voltou a interrogá-lo no ano seguinte em um processo sigiloso.
A Al Qaeda foi autora dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, que mataram quase 3.000 pessoas, além de vários outros atentados. Com as sanções, ficam proibidas todas as transações efetuadas por americanos, dentro ou fora dos EUA, que envolvam qualquer propriedade ou interesse nas mãos de pessoas designadas ou bloqueadas. Bancos brasileiros também não podem autorizar que indivíduos na lista abram conta em suas subsidiárias americanas, sob pena de sanções