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Raimundo Fagner e Belchior brigaram muito ao longo da vida. “Briga mesmo, de porrada”, Fagner descreveu certa vez. Há muita história, portanto, em “Meu Parceiro Belchior”, disco que o cantor lançou nesta sexta-feira (14), quando completou 73 anos, pela Universal Music.
Das 12 faixas, oito são parcerias de Fagner com Belchior, que morreu em 2017. Surpreende que oito canções deem conta da obra completa da dupla. O número, modesto para uma parceria iniciada no início dos anos 1970, é um atestado da relação conturbada que tiveram.
“Ele chegou a me procurar [para uma reaproximação], mas eu, cabeça dura, não fui. Lamento por a gente não ter feito mais música. Fica a frustração. Os filhos dele falaram que me mandariam poemas dele que eu gostaria de musicar. Tenho muita vontade de fazer isso”, diz Fagner, que faz questão de frisar que, apesar dos conflitos, sua admiração por Belchior nunca vacilou.
As brigas, como a admiração, começaram cedo e se acentuaram quando eles viveram juntos no Rio de Janeiro e depois em São Paulo. Mas Fagner lembra com gratidão do fato de que foi Belchior quem o levou para a capital fluminense, vitrine maior da música brasileira à época, para onde iam artistas do Brasil inteiro.
A proximidade, no entanto, gerou atritos. A forte personalidade de ambos e, diz Fagner, o ciúme que os holofotes sobre ele despertaram no parceiro, transformaram a relação numa tensão constante. Fagner, no entanto, não poupa elogios ao companheiro, três anos mais velhos do que ele.
“A quantidade de informação que ele acumulava era impressionante. Nunca tive nível para conversar com ele como via ele conversar com outros. Nosso papo era mais no chão”, diz. “Ele se achava meio dono de tudo, meio ‘menino, fique na sua’.”
Numa briga que ficou famosa, os dois se enfrentaram na casa de Amelinha. O motivo da disputa era um prosaico casaco, mas na verdade se revelava ali um acúmulo de mágoas. O confronto entrou para o folclore da MPB, muitas vezes com o acréscimo do detalhe de uma faca na luta.
Mas Fagner já negou diversas vezes a existência de armas, acrescentando que, na ocasião, ao ver uma tesoura em cima da mesa, a jogou pela janela para evitar que a situação piorasse.
Fagner atribui a certa falta de habilidade as desavenças acumuladas ao longo da vida. Lembra que, assim como Belchior, sempre teve um olhar crítico, mas seu parceiro era “mais preparado”. “Ele deixava na poesia. Eu ia para outro campo. Ele era bem preparado para esse confronto poético, esse diálogo crítico. Eu virei carne de leão. Abria a boca, vinha uma pancada.”
O canto inconfundível de Belchior também aparece no disco. A voz de sua gravação de 1976 de “A Palo Seco” foi usada para criar um dueto com Fagner.