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Brasil na COP27 foi marcado por Lula e acordos de florestas assinados e ignorados

O Brasil que entrou na COP27 sob o governo Jair Bolsonaro (PL) viu o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar o palco internacional, com encontros bilaterais e uma equipe de transição ambiental ativa desde o começo da conferência da ONU para mudanças climáticas.

A COP27 assistiu ao futuro governo tomar o bastão das questões do clima da gestão atual, que sempre relegou o assunto.
Mas o Brasil, ainda sob Bolsonaro, não agiu de modo a travar negociações na COP egípcia, como havia ocorrido na COP25, realizada em Madri, em 2019. Nessa ocasião, a delegação brasileira foi chefiada por Ricardo Salles, então ministro do Meio Ambiente. Aquela conferência, inclusive, deveria ter ocorrido em solo brasileiro –a mudança de local ocorreu a pedido de Bolsonaro.

Na edição seguinte, na cidade escocesa de Glasgow, a diplomacia brasileira formulou uma proposta para destravar as discussões sobre mercado de carbono. O texto foi entregue ao Japão, que levou o assunto à mesa de negociação.

A atuação diplomática brasileira é tida como mais discreta na COP27, segundo observadores ouvidos pela Folha. O país, de forma geral, agiu alinhado a grupos -como o G77 + China e o formado junto a Argentina e Uruguai.

Uma possibilidade aventada para isso é o processo de mudança de governo. Outro ponto que tem sido levantado é a ausência de liderança na equipe do Brasil, com pouca atuação do ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, chefe da delegação. Na sexta-feira (18), passou a manhã praticando mergulho e, à noite, deixou a cidade da conferência, antes de seu encerramento, portanto.

Do ponto de vista político e de deslocamento de massas, porém, certamente o Brasil chamou a atenção. A passagem de Lula lotou salas de reunião, estandes e corredores da conferência. Vale destacar que a delegação brasileira era a segunda maior no evento.

“Quero dizer que o Brasil está de volta”, afirmou o presidente eleito, que tem colocado a questão climática como uma de suas principais agendas.

Na passagem pela COP27, Lula também anunciou, junto ao consórcio de governadores da Amazônia, a intenção de sediar a COP30, em 2025, em um estado amazônico.

Apesar da atenção majoritariamente positiva, a ida de Lula à COP27 também ficou marcada pelo uso do jatinho do empresário José Seripieri Filho. Conhecido como Júnior, é fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

O presidente eleito cancelou, de última hora, uma entrevista coletiva que daria para jornalistas na conferência e deixou o Egito sem dar explicações sobre o caso. Vale destacar ainda as emissões associadas ao transporte de poucas pessoas em um voo particular, historicamente um alvo de críticas de ambientalistas.

A última conferência climática sob o governo Bolsonaro também foi marcada por dois acordos de florestas. Um foi assinado e o outro, ignorado.

Na COP27, Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, países que concentram enormes florestas tropicais, formaram um bloco para fortalecer suas posições no cenário internacional.

Ao mesmo tempo, no entanto, o Brasil ficou de fora da Parceria de Líderes para Floresta e Clima. O país nem mesmo chegou a responder aos convites para fazer parte do grupo, segundo a Folha apurou.

O acordo foi desconsiderado por uma questão de liderança no tema, de acordo com apuração da reportagem. Ou seja, a posição atual do país seria estar à frente dos principais acordos e fóruns sobre florestas.

O Brasil teria entendido também que, com o acordo com Indonésia e República Democrática do Congo, a outra parceria, no momento sob presidência dos Estados Unidos e Gana, não teria relevância.

A ideia da Parceria de Líderes para Floresta e Clima é, resumidamente, verificar os avanços na conservação das florestas. Tal acordo é um seguimento da Declaração de Florestas, assinada pelo Brasil na COP26. A declaração apontava o comprometimento em trabalhar conjuntamente para frear e reverter a perda da floresta e a degradação do solo até 2030.

A equipe ambiental de Lula, por sua vez, ainda não tem definições sobre uma possível entrada na parceria. Antes de qualquer passo, há a necessidade de entender exatamente o que envolveria fazer parte dessa iniciativa, afirmam participantes do governo de transição.

À Folha, o Itamaraty disse, na semana passada, haver foros com melhor formato para “tratar das necessidades dos países em desenvolvimento”.

Segundo o documento lançado durante a COP27, os membros da parceria têm o compromisso de liderar em áreas como colaboração internacional na economia do uso sustentável da terra e apoio a iniciativas de comunidades locais e de povos indígenas.

Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado taxas crescentes de desmatamento e, consequentemente, aumentos de emissões de gases do efeito estufa, o que coloca em risco seus compromissos perante o Acordo de Paris.

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