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Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 40% da água destinada ao consumo é perdida na distribuição. Seria o suficiente para abastecer cerca de 66 milhões de pessoas em um ano, quase o dobro dos 35 milhões de brasileiros sem acesso a água potável. A inteligência artificial pode mudar esse cenário.
O trabalho para encontrar vazamentos é lento e pouco eficiente. As empresas de abastecimento usam um geofone, aparelho eletrônico com um sistema acústico, que funciona como espécie de “estetoscópio de asfalto”, capaz de “escutar” o ruído dos canos e assim detectar os vazamentos.
Em busca de uma tecnologia mais eficiente, Marília Lara e Antônio Oliveira criaram a startup Stattus4, em Sorocaba (interior de SP). O primeiro dispositivo desenvolvido foi um sistema de inteligência artificial chamado 4Fluid Móvel, capaz de identificar ruídos nos dutos subterrâneos e gerar relatórios sobre a área.
Diferentemente do geofone, que necessita de um técnico para operá-lo, o dispositivo pode ser usado por qualquer um. É um coletor com uma haste, que, ao ser encostada no hidrômetro, capta em dez segundos os sons nos canos.
Tendo a análise, a empresa de abastecimento só envia funcionários ao local do problema. “A equipe não precisa mais rodar a cidade em busca de vazamentos. O hardware garante que o dado é preciso. Nosso produto é duas vezes mais rápido que um geofone e, em média, custa metade do preço”, diz Marília.
O valor do serviço varia de acordo com o tamanho da concessionária de abastecimento, o número de habitantes do município e a quantidade de vazamentos na região.
“Hoje, 53 piscinas olímpicas são salvas todos os dias pela nossa tecnologia. A meta é chegar a mil por dia em três anos”, afirma Marília.
Entre os clientes está o Grupo Águas do Brasil, que atende cidades como Niterói (RJ), Petrópolis (RJ) e Votorantim (SP). Somadas, as três têm cerca de 940 mil pessoas.
Em geral, as perdas de água ocorrem ao longo da rede e dos ramais de distribuição, frutos de vazamentos nas tubulações ou de problemas como má calibração dos hidrômetros, erros de leitura, fraudes e ligações clandestinas.
Identificar e prever vazamentos na rede foi o desafio aceito pelo então bolsista do Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento (LENHS) da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) Thommas Flores.
“Com a IA (inteligência artificial) dá para pegar o padrão de consumo de um sistema de abastecimento e compará-lo ao consumo de qualquer instante, e assim identificar vazamentos”, diz Flores, hoje mestre em engenharia elétrica.
O projeto já criou um algoritmo e está sendo testado na rede de água do laboratório da UFPB. Há planos de aplicar o sistema na rede de João Pessoa (PB). Cerca de 820 mil pessoas seriam impactadas.