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O Hospital Geral de Fortaleza está na lista das 12 unidades de saúde autorizadas no País a realizar a trombectomia mecânica – um método mais efetivo para o tratamento de pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico agudo, com recursos do Governo Federal. A decisão do Ministério da Saúde foi publicada em portaria no Diário Oficial da União no dia 24 de novembro.
Essa regulamentação inclui a trombectomia mecânica nos procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), define os critérios para a inclusão de novos hospitais e a triagem dos pacientes. Além disso, estabelece o valor de R$ 73,9 milhões anuais para ser dividido entre os 12 locais já autorizados.
No Ceará, os profissionais da saúde do HGF executaram a trombectomia mecânica pela primeira vez em 2014 e contribuíram, entre 2016 e 2020, para um estudo nacional sobre a efetividade da técnica. Com a portaria, o número de pacientes cearenses beneficiados pode dobrar.
“O orçamento que nós tínhamos assegurava o atendimento de 15 pacientes por mês, o que era 50% dos passíveis de serem tratados. Isso gerava um grande desafio para equipe que tinha decidir quem tratava”, detalha Francisco José Mont’Alverne, neurorradiologista e membro do grupo condutor da área de AVC da Secretaria da Saúde do Ceará.
O AVC isquêmico acontece quando há o bloqueio de um vaso sanguíneo, diferente do AVC hemorrágico que ocorre pelo rompimento de um vaso. O Estado é o único do Norte e Nordeste na lista dos hospitais credenciados para o procedimento. Confira a lista completa:
A portaria indica que o procedimento deve ser realizado em pacientes a partir de 18 anos e que apresentem os sintomas num período maior do que 8 horas e menor que 24 horas.
O recurso total será gerido pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), que adotará as medidas necessárias para a transferência dos valores mensais relativos ao procedimento aos Fundos de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Isso será feito com a apuração da produção de serviços registrada na Base de Dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). No Ceará, pacientes de outros municípios buscam a assistência pelo AVC em Fortaleza.
Francisco explica que a técnica foi aplicada em 2014 no HGF como um esforço da equipe para o atendimento especializado, mas não havia condições financeiras de implementar para todos os pacientes. Por isso, foi feita uma requisição ao Ministério da Saúde para a adoção da trombectomia mecânica como um procedimento para toda a rede.
O Ministério solicitou um estudo, nomeado de Resilient, sobre a efetividade da técnica e financiou parte dos procedimentos entre 2016 e 2020. Desse período até o momento, os procedimentos do tipo são financiados pelo Governo do Estado.
“Essa portaria garante a inclusão do procedimento na linha de cuidado do AVC, dentro de uma perspectiva nacional, porque quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de oferecer um tratamento que permita ao paciente sair de forma independente do hospital”, avalia.
Além dos benefícios diretos para o paciente, o médico também observa uma vantagem social: muitas famílias em situação de vulnerabilidade econômica possuem maiores dificuldades para acompanhar o ente no hospital.
Antigamente não tinha tratamento para oferecer dentro do SUS, a partir de 2016 foram publicados 7 trabalhos mostrando que existem benefícios nas primeiras 24 horas de fazer um cateterismo e desentupir o vasoFRANCISCO JOSÉ MONT’ALVERNENeurorradiologista
O HGF possui destaque na produção de pesquisas sobre o AVC, com artigo abrangendo mais de 2 mil pacientes no período de um ano publicado na revista internacional The New England Journal of Medicine, em 2021.
A trombectomia mecânica é um procedimento pouco invasivo no qual é introduzido um aparelho, após um corte na virilha, para alcançar o coágulo e permitir o fluxo sanguíneo. Geralmente, o procedimento é feito em pacientes após mais de 8 horas do AVC.
Conforme a realidade observada no HGF, a técnica mais do que dobra a chance do paciente deixar o hospital sem sequelas. Para a realização, é preciso treinamento da equipe e dispositivos similares aos usados em cateterismo.
Gisele Sampaio, médica neurologista e diretora científica da Rede Brasil AVC – uma organização não governamental formada por profissionais da área – ressalta a importância do SUS adotar o procedimento que já é feito na iniciativa privada desde 2015.
Essa portaria é um grande avanço, infelizmente não são todos que podem começar agora, mas esses hospitais participaram de um estudo clínico, já foram visitados e tem um serviço preparado para a realização do procedimentoGISELE SAMPAIONeurologista
“Representa muito para o paciente, porque pode significar que ao invés de sair com um lado sequelado, saia caminhando e voltando para as suas atividades diárias”, descreve sobre o atendimento. O método mais usual, como acrescenta, é o uso de medicação para dissolver o coágulo, mas que não funciona em todos os pacientes.
“Para esse casos, entramos com o cateter, sacamos o coágulo e permitimos o fluxo de sangue”, detalha. “A primeira condição para fazer é ter um serviço de AVC organizado, tem que identificar rápido o AVC e usamos um aparelho para navegar pela artéria”, completa Gisele.
A especialista contextualiza que a portaria permite a ampliação do serviço e ela enxerga a necessidade de ter uma equidade entre estados e regiões, mas que o pontapé para isso já foi dado.
O AVC é a 3ª maior causa de mortes no Ceará, em 2023. Neste ano, até setembro, 1.015 óbitos por AVC foram registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Estado, abaixo apenas dos infartos (2.640) e das pneumonias (2.374) fatais. É uma média de 112 por mês.
A soma engloba as vidas perdidas após AVC isquêmico, quando canais que levam sangue ao cérebro entopem; e hemorrágico, quando os canais se rompem.
Quando o AVC manifesta sintomas, os sintomas são facilmente reconhecíveis, como analisam os especialistas. Uma forma de identificar o acidente vascular acontece com a chamada “escala Samu”.
Dor de cabeça muito forte e repentina, “como um trovão na cabeça”, também pode ser um sintoma do agravo.