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O temor de um calote bilionário da Evergrande, uma gigante do mercado imobiliário chinês, derrubou Bolsas pelo mundo.
O Ibovespa, principal índice da brasileira B3, recuou 2,33% e fechou com 108.843 pontos. O dólar subiu 0,81%, cotado a R$ R$ 5,3320.
Nos Estados Unidos, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram 1,78%, 1,70% e 2,19%, respectivamente.
Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 (zona do euro) retrocedeu 2,11%. Também caíram as Bolsas de Londres (-0,86%), Paris (-1,74%) e Frankfurt (-2,31%).
A Evergrande, cujo passivo é estimado US$ 355 bilhões (R$ 1,89 trilhão), informou a credores que não conseguirá cumprir os pagamentos de juros da dívida com vencimento nesta segunda-feira (20).
Economistas afirmam que a situação é grave, capaz de trazer de volta o “fantasma da crise de 2008”, como relatou a casa de análise Levante Research em boletim enviado nesta manhã a investidores.
Em setembro de 2008, o banco americano Lehman Brothers quebrou ao reconhecer a insolvência de créditos imobiliários, sem receber socorro do Fed (o banco central dos EUA), o que provocou um efeito dominó de perdas em instituições financeiras pelo mundo afora.
Enrico Cozzolino, sócio-analista da Levante, afirma que, neste momento, a Evergrande levantou “uma bandeira amarela” para o mercado.
Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, recomenda cautela no pessimismo. “O mercado está em pânico porque não sabe se o governo chinês irá atuar, então, eu digo: calma, o governo deverá interferir”, diz Dumas.
Segundo dados levantados por Dumas, a Evergrande tem papel estratégico para projetos de longo prazo que buscam o desenvolvimento econômico da China. A empresa é responsável por 1.300 empreendimentos em cidades de baixa renda e emprega 3,8 milhões de trabalhadores ao ano.
Além de citar a preocupação com o impacto social, o professor reforça que o governo chinês tem forte capacidade de interferência na gestão dos ativos que compõem parte considerável da dívida da Evergrande, os WMPs (Wealth Management Products ), espécie de títulos emitidos sem garantia.
“O governo vai interferir de alguma maneira, pois pode trocar dívida por ativos”, diz Dumas. “Não vai ser fácil, mas está longe de virar um Lehman Brothers porque o governo chinês vai fazer alguma coisa.”
Dumas estima em algum momento, o governo vai promover a reestruturação da companhia, com venda de ativos, limitando as perdas para evitar tensão social.
Ele lembra que a China tratou o colapso do Lehman Brothers como um sinal da falência do Consenso de Washington e da ascensão do Consenso de Pequim. Também usou o evento como um marco para o início do fim do império americano.
“Deixar que aconteça a mesma coisa com a Evergrande é praticamente descartável”, afirma ele. Incerto é o destino dos executivos responsáveis pela degringolada da companhia.
O economista Rodrigo Zeidan, colunista da Folha, também destaca que, apesar de grave, o colapso da Evergrande não deve ter efeito em escala global (entenda o porquê).
No curto prazo, porém, a crise da empresa chinesa deverá piorar a situação da Bolsa brasileira, avaliam os analistas.
Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o pregão local já vinha sendo afetado pela desaceleração econômica chinesa, alimentada por restrições impostas pelo governo para tentar zerar os casos de Covid-19 no país e também por políticas públicas que buscam reduzir emissões de dióxido de carbono.
O país é o maior importador mundial de minério de ferro, cujo preço vem sendo rebaixado devido à redução da demanda.
Os contratos futuros de minério de ferro com 62% de pureza negociados na cidade portuária de Dalian, na China, acumulam queda de 31,5% desde o início de agosto, segundo dados da Bloomberg. As cotações do petróleo caíram quase 2%.
Ações de empresas de mineração e siderurgia brasileiras estão sendo fortemente prejudicadas, o que explica, em parte, as recentes quedas do Ibovespa.
“A Vale, que representa 13,6% do Ibovespa, teve 53% das suas receitas do segundo trimestre deste ano vindas de exportações para a China”, diz Arbetman. “Tem impacto direto.”
As ações mais negociadas do dia na Bolsa brasileira fecharam em queda, com destaque para Vale (-3,30%), Petrobras (-1,12%), Bradesco (-3,75), Itaú (-2,26%) e PetroRio (-5,68%).
De acordo com Arbetman, a crise no setor imobiliário chinês aumenta o temor do investidor em relação ao Brasil porque tem potencial para prejudicar dois setores importantes para a composição do Ibovespa: o de commodities e o bancário.
O petróleo Brent, referência para o mercado, fechou em queda de 1,88%, cotado a US$ 73,92 (R$ 394,23).
Na última sexta-feira, a Bolsa brasileira registrou queda de 2,06%, fechando o pregão com 111.439 pontos e acumulando perda semanal de 2,49% -a terceira semana seguida de queda. No ano, o recuo atingiu 6,37%.
A última vez que o Ibovespa havia caído ao patamar dos 111 mil pontos foi em março, um dia após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin que anulou todas as condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Justiça Federal de Curitiba, devolvendo, assim, os direitos políticos a ele.
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RAIO-X DA EVERGRANDE
Fundação: 1996, na cidade de Guangzhou, na China
Ativos: R$ 1,89 trilhão
Vendas por ano: R$ 577,22 bilhões
Empregados: 200 mil funcionários no momento
Projeções para 2022: R$ 2,47 trilhões em ativos e R$ 824,60 bilhões em vendas
Ramo imobiliário: um dos principais braços de atuação do grupo é a Evergrande Real Estate, do ramo imobiliário, que possui cerca de 1.300 projetos espalhados por 280 cidades da China
Clientes: o foco da Evergrande Real Estate está na entrega de casas decoradas e o público da companhia é estimado em aproximadamente 12 milhões de proprietários